quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Sim, ao desarmamento! (2)


A chamada "bancada da bala", volta-e-meia tenta retomar uma discussão visando à derrubada do Estatuto do Desarmamento.

A par dos interesses dos fabricantes de armas que, claro, querem proteger seus comércios, essa tal "bancada" e seus integrantes que ousam dizer-se "defensores de direitos", em qualquer sentido, NÃO visam a defesa da sociedade e, sim, seus próprios interesses e dos grupelhos que, de fato, representam.

Ao retornar o assunto, onde basicamente se deveria responder sim ou não à pergunta: “Você é a favor da proibição do comércio de armas no país ?”, podemos e devemos refletir:

1) Os tais defensores da liberação de armas tentam, com falácias, fazer-nos crer que não houve redução da violência com a adoção do Estatuto do desarmamento. Mentira !
O ano de 2004, primeiro de proibição de porte civil e vigência do Estatuto, registrou a primeira queda no índice de homicídios no país após mais de uma década de crescimento ininterrupto. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo, que vêm encarando o controle de armas com seriedade e combinando-o com políticas de segurança pública integradas, estão vivendo quedas consecutivas e consistentes em seus índices de homicídio. Não à toa, três secretários de segurança pública (SP, RJ, ES) assinaram a carta aberta em apoio ao Estatuto do Desarmamento. (*)

2) Outra mentira da bancada da bala e de seus seguidores é tentar fazer-nos crer que a “arma do cidadão de bem não comete crime”. Mentira !
A arma do cidadão de bem comete crime sim!
A ligação entre mercado legal e mercado ilegal é amplamente comprovada. A CPI do Tráfico de Armas da Câmara dos Deputados de 2006 analisou as armas apreendidas, ou seja, envolvidas em crimes, e documentou que 86% das armas apreendidas provinham do mercado nacional, ou seja, haviam sido fabricadas e vendidas no Brasil. 68% das armas relacionadas a crimes haviam sido vendidas por lojas autorizadas sendo 74% destas para pessoas físicas e 25% para empresas de segurança privada. 18% das armas foram desviadas das forças de segurança do país.
Pesquisa mais atual, realizada pelo Instituto Sou da Paz em 2011 e 2012, com mais de 14 mil armas apreendidas na cidade de São Paulo, identificou que 78% delas eram nacionais. 2/3 das armas de fogo tinham sido produzidas antes do Estatuto (2003), o que comprova que o controle mais rígido dificultou o acesso às armas também para a criminalidade e que sentimos até hoje os efeitos perversos da legislação permissiva que existia anteriormente.
Ou seja, a arma do “cidadão de bem” também abastece o mercado ilegal! (*)

Para não me alongar demais, é preciso também usar da razão e, com isto, observar com clareza o que a realidade nos mostra, dia-a-dia, ou seja: no Brasil, boa parte dos homicídios são praticados por motivos fúteis, conflitos cotidianos que com a presença da arma acabam em mortes. Com uma arma em mãos ou em casa é muito mais provável que ela seja utilizada em pequenos conflitos. Qualquer um está sujeito a perder a cabeça. Se a arma está presente, facilmente pode ser usada. A presença de armas de fogo nas residências também aumenta as chances de suicídios e acidentes, em especial envolvendo crianças e adolescentes.

Ser contra o desarmamento é ser a favor da violência, é ser a favor da lei do mais forte, ou do armado (mais armado).

Ser contra o desarmamento é regredir na evolução humana.
(*)Instituto Sou da Paz (menosarmasmaisvidas.org.br/ )