quarta-feira, 29 de julho de 2015

Boa vida, hein!



Vinha o sujeito, caminhando despreocupado, de volta da padaria onde fora comprar o lanche da tarde e, ao passar pela porta de um restaurante onde costuma almoçar, vê um garçom, seu conhecido, sentado no banco que  existe à porta, relaxando.

- Fala, meu amigo, que boa vida “hein” !, diz o sujeito ao garçom.

- Boa vida, só se for a sua. Que pergunta mais idiota. Disse um outro, que estava ao lado do garçom.

Silêncio! O que era para ser apenas um cumprimento inocente, vira uma constrangedora situação de confronto.

O sujeito pára, volta e pergunta: Como ?

Aquele outro rapaz, que reagiu de forma tão estressada a um cumprimento tão carioca e tão inocente, completa:

- O doutor que está à toa, passeando, vem zombar de quem está descansando de uma rotina de trabalho, enquanto não começa o novo período ? Boa vida é a sua, que está aí sem fazer nada !

Infelizmente, hoje em dia, isto está cada vez mais comum. Não se pode mais fazer qualquer comentário inocente, sem qualquer má-intenção, pois a praga do politicamente correto contaminou toda e qualquer situação. A “luta de classes” se faz presente, independente de existirem as “classes”.

O “coitadismo” e o “vitimismo” imperam, poderosos, contaminando a tudo e a todos.

- Meu caro, diz o sujeito, foi apenas um comentário , sem qualquer má-intenção, sem querer ferir seus sentimentos, mas vou aproveitar e te contar uma história, que se você puder escuta-la , pode ser um bom presente que vou te deixar:

Tenho 60 anos e trabalhei desde os 7 anos, já que o meu pai faleceu quando eu tinha 3 anos e ficamos eu, meus irmão (menores) e minha mãe, praticamente sem nada.

Vivemos de favor, na casa de outra pessoa e sabíamos, desde sempre, que nós mesmos é que teríamos que virar essa situação. A culpa nunca foi dos outros e, sempre pensei: se há outras pessoas em situação melhor, eu também posso melhorar.

Como eu disse, trabalhei desde os 7 anos e sempre soube que a educação poderia me fazer melhorar. A meta nunca foi a de ficar rico, mas a de poder cuidar da minha família.

Então, essa era a meta: melhorar de vida e cuidar dos meus; e esse era o caminho: trabalho e educação.

Para que isto pudesse ocorrer, não poderia haver desvios, então procurei aproveitar todos os minutos, todo o tempo, na busca daqueles objetivos. A cada tempo livre, eu estudava!  A cada momento de folga, eu lia! Enquanto outros culpavam a vida e “os ricos”, eu procurava aproveitar as poucas oportunidades que tinha, e estudava, e trabalhava.

Caro amigo, muitas vezes foi muito difícil.   Muitas vezes vi outros curtindo a vida, mas isto nunca me fez ficar chateado com a vida , ou com aqueles, ao contrário, eram as minhas metas, era a minha luta e isto me incentivava mais e mais.

A vida não é igual para todos, como alguns nos querem fazer crer, apenas para nos manipularem, a vida não é um mar de rosas, mas também não é uma estrada de espinhos. Há de tudo um pouco e não podemos é ficar culpando a vida, os outros, enquanto nada fazemos para mudar a situação.

Muito trabalhei, mas muito mais estudei e mais ainda lutei e agarrei todas as oportunidades que me apareceram.

Tenho, hoje, 60 anos. Não, não fiquei rico, ainda luto para cuidar da minha família, mas o trabalho e o estudo me deram a oportunidade de ir com calma à padaria e cumprimentar os amigos, sem má-intenção, com alegria.

Num mundo sempre em crise, com o desemprego sempre nos rondando, poder ter um emprego, poder estudar e poder cuidar da família, com o produto do meu esforço e da minha dedicação, sem culpar a vida, ou os outros, mais que tudo, me coloca sempre com o ânimo elevado e confiante sempre, mais na minha própria capacidade, do que na pretensa “culpa” da vida e dos outros.

Existem muitas histórias iguais, outras nem tanto. A escolha é de cada um.

Paz e Bem !